Cronologia do vidro e suas aplicações pelo mundo

Artigo elabora uma linha do tempo com a história da evolução do vidro na sociedade até sua consolidação na construção civil como elemento estrutural

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Somente com a descoberta da técnica de sopro o vidro passou a ganhar diferentes usos

 

Linha do Tempo

5000 a.C. : o vidro foi utilizado em jóias no Egito

650 a.C.: encontrado o primeiro escrito sobre o processo de fabricação do vidro

400 a.C.: primeira peça de vidro encontrada.

30 a.C. a 400 d.C.: Difusão da técnica do vidro soprado e material é encontrado no Império Romano (mesmo local em que o vidro é utilizado para janelas pela primeira vez)

Século VI: Uso do vidro na Hagia Sofia e igrejas no norte dos Alpes

Século IX: elaborada a primeira descrição do cilindro de vidro.

Século XIII: vidro foi utilizado para a construção de monastérios. Em 1280 a industria de vidro de Veneza se iniciou e até os dias de hoje é destaque na produção de vidro

Século XVII: Luís XIV inaugura fábrica de vidros para a construção de Versailles, que desenvolve técnica para produção de vidro em grandes planos

1905: Belgas desenvolvem técnica do desenho sobre o vidro em um processo de escala industrial

1910: Franceses desenvolvem o “vidro seguro” para uso em carros, conhecido atualmente como vidro laminado, trata-se de material feito como um sanduíche de filme e celulose transparente entre duas camadas de vidro.

1930: Outras inovações da indústria Saint Gobin para vidros desenvolvidos para carros

1959: Pilkington desenvolve o “vidro flutuante”, trata-se de vidro derretido em uma superfície líquida.

1973: Com a crise de energia o vidro foi muito desenvolvido na construção civil como material que permite o controle da passagem de radiação – devido a crise energética da época

 

Não se sabe ao certo onde ocorreu a primeira produção do vidro, atribuem a esse fato os egípcios ou fenícios.Existem inúmeras lendas desses povos que explicam através de crenças e rituais o surgimento do material a lenda mais conhecida é aquela narrada por Plínio, historiador romano que viveu de 23 d.C. a 79 d.C.

“Os povos que disputam a primazia da invenção do vidro são os fenícios e os egípcios. Os fenícios contam que, ao voltarem à pátria, do Egito, pararam em Sidom. Chegados às margens do rio Belus, pousaram os sacos que traziam às costas, que estavam cheios de trona. A trona é carbonato de sódio natural, que eles usavam para tingir lã. Acenderam o fogo com lenha, e empregaram os pedaços mais grossos de trona para neles apoiar os vasos onde deveriam cozer os animais caçados. Depois comeram e deitaram-se; adormeceram e deixaram o fogo aceso. Quando despertaram, ao amanhecer, em lugar das pedras de trona encontraram blocos brilhantes e transparentes, que pareciam enormes pedras preciosas. Os fenícios caíram de joelhos, acreditando que, durante a noite, algum gênio desconhecido realizara aquele milagre, mas o sábio Zelu, chefe da caravana, percebeu que, sob os blocos de trona também a areia desaparecera. Os fogos foram então reacesos e, durante a tarde, uma esteira de líquido rubro e fumegante escorreu das cinzas. Antes que a areia incandescente se solidificasse, Zelu tocou, com uma faca, aquele líquido e lhe conferiu uma forma que embora aleatória era maravilhosa, arrancando gritos de espanto dos mercadores fenícios. O vidro estava descoberto.”

Contudo a peça mais antiga já encontrada é datada de 400 a.C. e nesse período o vidro era mais utilizado em joalheria, peças de decoração e recipientes. O vidro era feito através de um processo em que fundiam-se o vidro e o enrolavam em filetes em moldes de argila. Quando o vidro esfriava era retirado o molde, obtendo-se assim a peça.

Por volta de 300 a. C. o tradicional método do sopro foi desenvolvido. Trata-se do processo em que é necessário soprar, com o uso de um tubo, no vidro fundido de tal maneira a se produzir uma bolha no interior da massa, assim quando o vidro esfria, o vazio criado pela bolha, torna-se o interior do recipiente. Esse processo, bastante utilizado até os dias de hoje facilitou o desenvolvimento da técnica de produção de objetos utilitários. Neste processo, além do objeto final, são utilizadas as gotas restantes que ficam ao final do tudo para fazer vidro plano, como vidraças e vitrais.

No período da Idade Média, o vidro era utilizado para possibilitar a entrada da luz do dia, destacam-se então os vitrais. Feitos a partir da técnica do mosaico, pedaços de vidro cortados e montados em painéis que formam um desenhos, os vitrais demandavam uma estrutura bastante densa para suportar os pedaços de vidros cortados. A malha que suportava e estruturava os painéis era importante também em seu formato, pois compunham a estética da fachada do edifício. Elas eram elaboradas com armaduras em “H” para fixar o vidro. De acordo com Dutton o vidro feito dessa forma possui uma má transmissão da luz solar e a superfície fica com imperfeições. Entretanto, esses característicos vitrais foram um importante componente nas suntuosas catedrais góticas, pois alem de suas funções de vedação e estética, os vitrais tinham objetivo de catequização, pois contavam histórias bíblicas àqueles que não sabiam ler.

Ainda neste período, por volta de 1200, tem-se o destaque dos vidros confinados na Ilha de Murano, próximo à Veneza. Lá foi desenvolvido o processo de produção do vidro bastante claro e transparente denominado cristallo, por parecer um cristal. Até nos dias de hoje os “cristais” são os tipos de vidro mais elegantes e caros. A partir do desenvolvimento do cristallo, foi possível desenvolver matérias de vidro translúcido como os binóculos, em 1590 e os telescópios, em 1611 e lentes de termômetros.
Por volta de 1665, o Rei Luis XIV fundou a companhia, conhecida atualmente como Saint Gobain, para produzir vidros para espelhos de suas reluzentes obras. Nesta indústria, em 1685, que foi desenvolvido a técnica de deposição da massa fundida de vidro sobre uma mesa metálica e em seguida um rolo passa por cima, em seguida o vidro deveria ser polido para retirar as irregularidades da superfície. Com o desenvolvimento da técnica de fabricação do vidro, novas tecnologias foram incorporadas, sobretudo a possibilidade de que as aberturas possam conectar com o externo e o desenvolvimento de superfícies mais lisas e homogêneas. O Palácio e o Jardim de Verssailles é o maior expoente dessa tecnologia, em que o vidro é usado como elemento essencial da arquitetura.

No século XIX, muita tecnologia foi desenvolvida que ampliou a produção do vidro. Em 1880 inicia-se a produção mecânica de garrafas e em 1900, a produção do vidro plano passa a contar com novas tecnologias.

Neste período destaca-se a obra O Palácio de Cristal, de Joseph Paxton de 1851. Nessa construção a noção de transparência no interior é evidente, ela é toda elaborada com painéis de vidros estruturadas em uma malha de metal, o vidro ainda não era componente estrutural. Aqui o processo da produção em massa de vidro dada pela industrialização era uma novidade. O Palm House, de H. e D. Bailey 1843 também utiliza o vidro como material principal no partido arquitetônico. Aqui a obra é dividida em dois volumes possui vidros na cobertura e na parede e são estruturadas por barras de dimensões mínimas.

No século XX dois fatos foram marcantes para o desenvolvimento da tecnologia. No período de guerra, os alemães se destacaram no desenvolvimento do vidro no campo da ótica e sinalização. Em1952, é inventado o processo float, utilizado até hoje, em que o vidro fundido é escorrido sobre um banho de estanho líquido e sobre ele se solidifica.

No período da Arquitetura Moderna o vidro era um importante elemento na concepção de obras, tanto na questão estrutural como também para conceber os espaços que os modernos teorizavam: superfície impermeável à chuva, sugere um plano invisível, permite a entrada de luz e possibilita o contato com o externo. Usavam grandes planos de vidros e com estruturas de suporte cada vez mais delgadas, possibilitando maior contato com o ambiente externo. O edifício da Bauhaus, de Walter Gropius é um interessante exemplar de como o vidro era usado como componente principal em algumas obras do período. Em Farnsworth House, de Mies Van de Rohe o vidro foi usado como um importante tema: é o material que permitia a passagem de vento e ar para o interior da construção e permitia que a obra tivesse um maior contato com a natureza. Na Maison de La Radio, de Henri Bernard é também um belo exemplo de como o vidro foi usado para compor uma grande superfície de fachada. O Pavilhão de Vidro de Bruno Taut, de 1914, retoma a idéia do Palácio de Cristal: paredes, piso e domos são feitos de vidro e também o vidro é usado com estrutura.

No período do fim do século XX um novo conceito de transparência passou a ser utilizado nas obras edificadas: o vidro reflexivo, aquele com capacidade de, do lado de dentro dar visibilidade do externo e, por fora o material é reflexivo. Na obra da Fundação Cartier, do arquiteto Jean Nouvel de 1994 é um bom exemplo da utilização desse material. A obra parece se misturar com o céu, a obra só se torna nítida para que a vê externamente, quando alguma luz artificial esta ligada dentro da obra.

Atualmente, muitas outras aplicações surgiram para o vidro: as fibras que tanto servem para isolamento térmico e acústico, como para reforço de outros materiais. As fibras óticas que substituem com enormes vantagens os tradicionais cabos de cobre e alumínio utilizados em comunicações, lâmpadas, isoladores, etc..

No âmbito da construção civil, muito ainda esta sendo desenvolvido, sobretudo na utilização de peças de vidro como componentes construtivos como pilares e vigas. Muito se descute sobre a maior eliminação de estrutura de metal ou alumínio.

 

O Vidro na Arquitetura Brasileira

Infelizmente não há vastos registros sobre a utilização do vidro nas primeiras construções brasileiras, que correspondem ao período colonial. Entretanto através do trabalho do artista e pesquisador José Wasth Rodrigues que levantou e analisou os registros escritos e desenhados dos viajantes do século XVII E XIX pode-se extrair alguma informação. Nota-se que as construções brasileiras daquele período não eram muito sofisticadas, a maioria das construções eram feitas de taipa de pilão com apenas um pavimento e com cobertura de folhas de palma para a classe baixa, as construções de pedras e cal eram destinadas À classe mais elevada.

O vidro como elemento construtivo no Brasil,surge primeiro como vedação, sem função estrutural. Janelas envidraçadas aparem apenas entre os séculos 17 e 18 em construções nobres como igrejas, palácios localizados nas cidades da colônia mais importantes economicamente.

Os pesquisadores como Carlos Lemos, Paulo F. dos Santos e Nestor Goulart Reis Filhos, mostram através de seus estudos que o vidro era um artigo de luxo no modesto cenário brasileiro colonial, eram poucas construções que contavam com esse material. Essa ausência do vidro é explicada pelo sistema colonial, em que pouco investimento era revertido para a construção das cidades e espaços brasileiros.

As janelas com folhas de abrir só foi realmente muito usada no início do século XX. O motivo para esse “atraso” tecnológico na construção civil brasileira ainda era o preço do vidro que para exportação ainda era muito caro e a locomoção desse material ainda era muito precária, pois toda movimentação era feita por tração de animais. Outra razão é o fato da colônia não possuir conjunto de medidas e práticas políticas e econômicas próprias, assim todo o consumo estava dependendo da metrópole: desde a importação para a colônia do vidro, até a formação de mão-de-obra especializada, de arquitetos e mestres-de-obra a vidreiros e caixilheiros. Entretanto, mesmo de forma bem lenta, o vidro começou a alavancar no Brasil com a incorporação de novos padrões de conforto, higiene e estética desejada pela elite na construção de suas moradias, incorporando os padrões europeus.

Quando Brasil se desvencilhou de Portugal, os padrões estéticos ainda eram importados da Europa. A elite passou a adotar as idéias dos arquitetos franceses e ingleses para suas nobres construções, daí a importanção dos “vidros à francesa”, fornecidos em maioria pela Saint-German eram evidentes nas obras daqui.

“Os conhecidos trabalhos fotográficos de Militão em São Paulo e de Ferrez no Rio de Janeiro, Salvador e Recife, feitos nas últimas décadas do século 19, mostram que nas principais cidades brasileiras as vidraças apareciam por toda a parte, nas casas, nas lojas e nos edifícios, comprovando que o tempo das rótulas, símbolo do passado colonial, tinha acabado. Mostram também os novos estilos de construção nos sobrados e palacetes neoclássicos, exibindo elegância por dentro e por fora em seus interiores mais bem distribuídos, decorados e iluminados, em suas fachadas de grandes janelas envidraçadas e em seus jardins cercados de gradis de ferro trabalhado. Por trás dessa crescente “europeização” estavam a riqueza do café e a aristocracia burguesa dos barões do Império. Para afirmar-se e destacar-se no cenário de um país ainda agrário e escravista, ela não hesitava em importar tudo o que a nova civilização industrial oferecia para sua prosperidade e desfrute, não só as máquinas e os trens para beneficiar e transportar o café até os portos, como também uma infinidade de artigos pessoais e domésticos, como porcelanas inglesas, tecidos franceses, lustres e cristais belgas, mármores italianos, lavatórios e sanitários alemães.”

No século XX, a preocupação da elite brasileira passou a ser a busca da modernização através do esforço de livrar-se do estigma de colônia, em direção às repercussões da Belle Époque européia. O primeiro passo para tal modernização foi a mudança da realidade social e urbana, que impulsionou grandes investimentos para melhorar as estruturas de saúde, educação e trabalho dos grandes centros. A famosa reforma de Pereira Passos e as campanhas sanitaristas de Oswaldo Cruz foi o exemplo máximo do esforço da Republica recém instalada para a elaboração de uma cidade consolidada para as elites, nesse contexto os bairros dos Campos Elíseos e Higienópolis são bons exemplos de ações públicas e privadas. O segundo passo da republica era transformar o Brasil em um país mais industrializado, auto-suficiente e competitivo e foi o que tentou ser feito em 1930 até 14940.

Para concretizar o projeto republicano foi adotado, no âmbito da arquitetura e da engenharia civil, as recentes tecnologias européias e norte-americanas da época. O uso de ferro, aço, cimento, vidro e outros permitiu ampliação nas possibilidades construtivas como a elaboração de estações ferroviárias, pontes, usinas, fábricas e museus. Avançando nesta direção, a arquitetura brasileira incorporava novos conhecimentos e aplicava novos recursos na busca de soluções mais eficientes para as necessidades humanas, individuais e coletivas, de morar, trabalhar e conviver. Um desses recursos foi, com certeza, o vidro. A partir das décadas de 1940 e 1950, o uso do vidro na edificação se intensifica, sob influência das principais escolas da arquitetura mundial e sob pressão interna da modernização urbano-industrial do Brasil.

As idéias da vanguarda modernista representada pelos arquitetos Walter Gropius, Mies van der Rohe Le Corbusier, Frank Lloyd Wright que utilizavam o vidro como um dos materiais principais da arquitetura foram amplamente incorporadas, por volta dos ano 1930 e 1940 pelos principais atuantes na arquitetura brasileira, tal como Warchavchik, Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Rino Levi, Sérgio Bernardes e Villanova Artigas

O Edifício do Ministério da Educação e Saúde (MES) do Rio de Janeiro é um bom exemplo que ilustra o período do grande uso do vidro no Brasil. Projetado por Lúcio Costa e Oscar Niemeyer em 1936, trata-se de uma obra com uma fachada inteira em vidro, protegida por um série de brises-soleil, para controle da luz. Um ano após o MES, Niemeyer constrói o Conjunto da Pampulha, onde também há uma interessante fachada de vidro que permite a entrada da iluminação em direção ao painel de Portinari. Em 1951, a arquiteta Lina Bo Bardi inaugura a casa no Morumbi, conhecida por “Casa de Vidro”, conhecida pelo partido arquitetônico que faz a maior parte da vedação da casa com painéis de vidro sustentados por estruturas metálicas.

 

Fonte: sites.google.com/arquiteturaemvidro

 

BIBLIOGRAFIA

ADDIS, W. A history os usinn glass in buildings and some thoughts about the future. Departament of Construction and Engineering, UK, 1996.

AKERMAN, Mauro. Natureza, Estrutura e Propriedades do vidro. CETV, 2000.

DUTTON, Peter Rice and Hugh Dutton. Structural Glass

 

Sites

http://www.pilkington.com/the+americas/brazil/portuguese/about+pilkington/history+of+float+in+brazil/history+building+products+brazil.htm

http://www.bath.ac.uk/cwct/cladding_org/gib99.htm

 

Para a compreensão do vidro estrutural será descrito no tópico sobre histórico em um primeiro momento a evolução do material vidro e seus diferentes usos até chegar seu uso efetivo  na construção civil. Em seguida, será tratada a evolução do vidro como um material estrutural, tanto em escala mundial quando a escala nacional. Para tanto, uma linha do tempo com os principais acontecimentos foi construída e, em seguida o texto discorrerá sobre os acontecimentos mais relevantes para a compreensão da evolução da tecnologia em questão.

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